Construir um monumento que manifeste em si as muitas faces do tempo é algo que pode ser alcançado apenas por uma profunda densidade poética. Assim, somos despertados aqui por duas tradições humanas milenares. Primeiro, a da conquista do território, como nos povos antigos, fazendo-nos eleger um sítio estratégico nessa paisagem de beleza natural estonteante para se inaugurar um lugar e erigir uma construção. Depois, a da produção do vinho, entendendo esse edifício como um templo do ritual simbólico que transita entre deuses e humanos de transformar uvas em beberes. Arquitetura e Vinho nos orientam à manifestação do ciclo natural das coisas, do fenômeno, da ordem, bem como à experiência dos nossos sentidos, memórias e alegorias. Ancorada na cota 1.300 – ponto mais alto da propriedade – e permeada por montanhas de frondosa Mata Atlântica, a vinícola repousa sobre esse promontório de contemplação dos horizontes e se incrusta no solo para garantir a luminosidade e a temperatura ideais para o repouso do vinho. Em seus interiores, pátios e mirantes nos levam para o ar, percursos e salas para dentro da terra, luzes e sombras para o espetáculo do tempo. Os clássicos arcos e abóbadas são revisitados em sua obra feita da tradição da terra (tijolos cerâmicos) e da modernidade da pedra (concreto armado). Uma arquitetura de significado atemporal que, através da solidez de sua matéria, ressignifica a história numa presença perene para transmitir, por gerações, valores sensivelmente incrustados em suas paredes.
Local: Cunha, SP
Ano: 2019 – em construção
Área do Terreno: 160ha
Área do Projeto: 1.880m²
Autor:
Daniel Corsi
Colaboradores:
Maria Beatriz Indolfo, Gabriela Lamanna Soares, Giovanna do Val Custódio, Christian Salmeron, Lucas Dalcim, Ana Luiza de Mello Ward, Gabriel Granado e Sá, Pedro Lindenberg Motta