Um museu como fenômeno, um fenômeno como paisagem.
Duas condições absolutas se apresentam: a situação geográfica singular e a instituição universal a ser implantada. Configura-se uma dualidade onde intervenção e paisagem se amalgamam para engendrar um momento extraordinário na paisagem e no homem que dela poderá se apropriar. Desse modo, revela-se incontestável e determinante a síntese entre a significação do Museu e sua atuação no território.
Intrínseca a estas condições, a dualidade se afirma numa estratégia de implantação a partir da qual o novo Museu Exploratório de Ciências, além de contemplar a paisagem em sua totalidade, se funda no horizonte como marco através de um ato singular. Simultaneamente o novo edifício busca em seu desenho a metáfora primeira entre a dimensão infinita do universo e a propriedade humana de compreensão da realidade através da ciência: intervenção e paisagem, verticalidade e horizontalidade, interior e exterior, luz e sombra, cosmos e indivíduo. A arquitetura como ato determinado da manifestação humana, um instrumento científico de aprendizado e identidade para divulgação da ciência.
Partido / Implantação
A estratégia de implantação busca a predominância da paisagem a qual o museu se soma, contemplando três escalas diferentes: o entorno, o campus e o usuário. O projeto se insere no terreno através de um volume horizontal no eixo Norte-Sul que se acomoda na topografia e cujo ponto mais alto coincide com cota da praça existente, mantendo intacta e potencializando a apreensão do visual panorâmico em toda sua extensão; este mesmo volume se verticaliza e acaba por pontuar o lugar inaugurando um novo acontecimento no contexto atual do Campus da UNICAMP e da Região Metropolitana de Campinas, sendo visível em um extenso raio formado por cidades, estradas e equipamentos.
O novo museu está contido numa única faixa, onde o programa se distribui em espaços e momentos espaciais distintos. A chegada dá-se através de um grande balanço estrutural que leva o visitante à praça/rampa descoberta de acolhimento e acomodação de grupos antes do acesso ao interior do museu. A partir das áreas de acolhimento externa e interna, tem-se a possibilidade de acessar os espaços públicos: no nível superior se chega às áreas de exposição temporária e permanente, bem como todos os usos de acesso livre, e no nível inferior se acessa a exposição multimídia, auditório e ateliers de ciências.
Os espaços e atividades são dotados de características que os identificam. A exposição multimídia, preparada para abrigar a NanoAventura, se configura como um volume que perfura o museu e faz com que seja presente ao longo do percurso, além de ser acessado por um caminho que remete a ligação do museu com a terra, enquanto o Observatório, localizado no topo do volume vertical, remete diretamente à dimensão espacial. As construções existentes, Praça Tempo-Espaço e Oficina Desafio, são incorporadas através de seus usos e de conexões com a área de acolhimento e a cobertura da nova construção, formando uma cota superior de museologia a céu aberto. A expansão prevista se localizará em um volume na porção oeste do terreno, em cota inferior, não interferindo na volumetria principal e possível de ser acessado separadamente.
Museologia / Circulação
O museu se oferece como importante experiência didática da instituição em diversos aspectos, buscando a imprescindível interação entre arquitetura e a museologia do conteúdo abrigado. Os diversos percursos possíveis vislumbram uma série de diferentes espacialidades e sensações: a transição entre espaço interno e externo da praça de chegada, o acesso ao volume horizontal do museu envolvido por uma luminosidade controlada e dinâmica através dos fechamentos, o espaço imersivo da exposição temporária e, como momento principal, o espaço vertical dedicado à exposição permanente. Variações espaciais e de luminosidade que possibilitam sensações através da forma do edifício. Um percurso que, como a ciência, se define por momentos de buscas e instantes de intensa singularidade. As duas salas de exposição possuem total controle de iluminação natural: temporária e permanente, por meio de claraboias e brises reguláveis, respectivamente. Além disso, o projeto permite que o usuário esteja sempre visualmente em contato com o exterior.
Estrutura / Execução
O sistema estrutural proposto contempla, primeiramente, todas as necessidades específicas do funcionamento do Museu, além de manifestar-se como exemplo didático de como é constituído o edifício, revelando sua estrutura e seus processos tecnológicos. Para isso, a estrutura principal se define por duas grandes vigas metálicas treliçadas que se desenvolvem no sentido longitudinal, permitindo um vão livre de 32,5m, além de possibilitarem o balanço de acesso e a sobreposição da estrutura vertical da exposição permanente. Isso permite uma grande flexibilidade para as exposições e ocupação dos grandes vãos, além da diversidade de alturas para objetos de diferentes portes, também possíveis através de sistemas de ancoragem nas vigas transversais. A estrutura se revela como infraestrutura, abrigando forros técnicos e pisos elevados, contendo instalações de energia, iluminação e hidráulica, além de dutos de instalações nas vigas principais. As etapas de execução podem se desenvolver com soluções técnicas rápidas e econômicas: ajustes pontuais da topografia, estrutura de espera em concreto armado e sobreposição da estrutura metálica.
Eficiência Energética
O projeto do museu, ainda que preparado para receber equipamentos de climatização, é capaz de funcionar sem eles através de ventilação e iluminação natural. Tirando partido do sistema estrutural e dos fechamentos, as treliças longitudinais funcionam como espaço de circulação de ar de 2,5m de largura entre o vidro interno e o fechamento externo, funcionado este como brise-soleil que protege o volume. Isso possibilita um perfeito equilíbrio térmico no interior do edifício, assim como a criação de uma área ou terraço semiexterior ao longo do edifício onde os usuários podem circular. Possuindo uma grande área de cobertura, também poderia ser adotado um sistema de captação de energia solar para a autonomia energética do edifício. Além disso, com o uso predominante de materiais industrializados e processos construtivos dinâmicos, se minimiza o impacto ambiental e propicia a rapidez de execução da obra, não gerando desperdícios ou gastos imprevistos com manutenção de longo prazo. A implantação pontual do projeto também reduz interferências no terreno e possibilita a ocupação de todo o resto da área com vegetação de pequeno ou grande porte.
Linguagem / Matéria
Através de sua implantação e forma, além da matéria de que se constitui, o museu une a ciência a uma expressividade espacial e sensitiva. Utilizando materiais predominantemente reflexivos como vidro, alumínio, e aço, o edifício se torna primeiramente, um ponto de luz, um reflexo não muito definido a distância, mas que se revela ao aproximar-se. Um brilho difuso que remete a um evento em eterno movimento conforme a luz do dia e da noite. A potencialização de um fenômeno e um estímulo para que qualquer cidadão se pergunte sobre o mundo que nos envolve.
1º Prêmio
Concurso Público Internacional de Projeto de Arquitetura para o Museu Exploratório de Ciências - Unicamp
Local: Campinas, SP
Ano: 2009
Área do Terreno: 28.968m²
Área do Projeto: 5.370m²
Autores:
Daniel Corsi
Dani Hirano
Reinaldo Nishimura
Colaboradores:
André Sauaia, Laura Paes Barreto Pardo, Amanda Nascimento Higuti, Andrea Key Abe, Jenniffer A. dos Reis, Lidia Neves Martello, Tatiana Hummel
Maquete:
Leon Richard Benkler
Exposições:
10.000 World Architects Exhibition - UIA2011 TOKYO - The 24th World Congress of Architecture | Union Internationale des Architectes (2011)
Arquitetos Professores, Professores Arquitetos - Centro Universitário SENAC (Campus Santo Amaro) (2011)
La Bienalle di Venezia – 12ª. Mostra Internazionale di Architettura. Mostra de projetos na Exposição “50 Anos Após Brasília” Pavilhão do Brasil (2010)
8ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo (2009)