Uma instituição pública responsável pela educação de seus cidadãos, junto à tarefa de fundar um centro de ensino, deve também empenhar-se em fundar um lugar. Cabe a estes edifícios evidenciarem seu papel cívico por meio de sua arquitetura. A construção do Centro de Ensino Fundamental do Parque do Riacho é um acontecimento que pode reverberar na formação de seus estudantes e em seu meio urbano, transcendendo os seus limites físicos e programáticos.
Presença
Diante das características de sua inserção num plano urbanístico à espera de referenciais, o projeto inaugura um marco urbano arquitetônico que faz comunicar à paisagem um lugar de importante convergência. Predominantemente horizontal, a presença do CEF no território plano da cidade se dá através de duas ações: uma voltada para o lado urbanizado, encerra o eixo de aproximadamente 700m da via que organiza todo este setor (QS1-1A), com a elevação - na máxima altura edificável - de um ‘portal urbano’ de acesso, convidando todos ao seu interior. A outra, olhando para o lado expresso da DF-001 e da Linha de Transmissão, evidencia a quadra coberta como um volume maior e capaz de marcar a existência do conjunto na extensa faixa desse limite do bairro.
Atuação
Além de se dedicar à educação, o projeto também define um lugar relevante para o convívio social. Como equipamento urbano, a organização dos espaços do CEF deve ser aquela de acolhimento, potencialização e flexibilidade, tanto de eventos escolares como qualquer outro que venha ser de interesse da população ao seu redor.
Espacialização
Toda cidade deve ser construída a partir de uma diversidade de espaços. O projeto do CEF soma-se ao plano urbano de modo singular, inaugurando um grande vazio interior e central que oferece um novo tipo de praça além daquelas previstas para o entorno. Um lugar de forte identidade, capaz de abrigar as vibrações das crianças e adolescentes que dele irão se apropriar. Ainda que possa ser lido como um espaço introspectivo, poderíamos chamar esse lugar de ‘pátio cívico’, pois a sua escala, bem como aquela de todos os elementos que o compõe, faz dele um espaço de recreação e de encontro, trazendo para o cotidiano da convivência escolar a dimensão que todo lugar urbano deveria oferecer: a liberdade do ir e vir.
Descoberta
Considerando a variedade etária e o largo tempo durante o qual os estudantes vivenciarão o CEF, buscamos preservar uma atmosfera de constante descoberta desde a sua chegada: após transpor o grande portal de acesso, descortina-se um espaço no qual encontramos praças e circulações, pátios cobertos e descobertos, térreos e elevados, intimistas e coletivos, em suma, espaços para o encontro. Essa variedade, incluindo a programática, dá origem a lugares dentro de lugares, como uma pequena urbe a ser sempre revisitada por seus habitantes. Um lugar assim inaugura uma nova condição na vivência de seus alunos a ser, posteriormente, levada como memória social para além de seus limites.
Continuidade
Concebemos o CEF como um edifício contínuo e fluido. Organizados ao redor do espaço central, os setores preservam sua autonomia e identidade, além de se unirem numa paisagem interior própria. O fato de estarem distribuídos em somente dois níveis permite um sistema de circulação claro e rico em suas perspectivas e possibilidades de ocupação. Com isso, estabelecemos dois eixos principais de continuidade: o primeiro, leste-oeste, fortalece a sequência de espaços iniciados a partir do acesso, passando pelos pátios coberto e descoberto, até a quadra-coberta; o segundo, norte-sul, estabelece a interação visual entre as duas alas do Setor Pedagógico como uma importante ordem sensorial entre os alunos mais novos e os mais velhos. Assim, o CEF afirma a diversidade de seus espaços também de modo simbólico tendo numa ala a Biblioteca, ícone de uma formação intelectual e, na ala oposta, o Ginásio como ícone de sua formação física. Entremeados por um espaço de recreação flexível de luz e de sombra, com escadas, arquibancadas, jardins e praças, todos esses elementos podem ou não estar plenamente integrados, funcionando de modo independente em seu cotidiano ou, quando desejado, como um grande complexo de atividades simultâneas. O Auditório e o Refeitório, ambos voltados ao espaço central, completam a lista de programas possíveis de também serem incorporados ao centro comum.
Cores
Uma arquitetura dedicada a crianças e adolescentes deve ter em sua linguagem aspectos que estreitem o vínculo sensorial com seus usuários. Desse modo, o edifício é primariamente composto por duas cores principais: o amarelo, que define a base sólida de encontro da construção com a cidade invadindo o interior do edifício, e o branco, que o aponta em sua pureza na vasta paisagem, além de integrar todos os seus elementos. Considerando que seu caráter comunicativo e lúdico deve se revelar além de seus espaços, esta composição cromática foi estendida para cada um dos elementos programáticos que compõe o centro de ensino. Buscamos gerar identidades singulares que reflitam os tempos da formação determinando uma cor para cada fase escolar. Nas fachadas exteriores estas podem ser reconhecidas individualmente ao passo que, no pátio central, presenciamos o encontro simbólico de cada uma delas gravado nos brises coloridos que envolvem as circulações das salas de aula.
Formação
Por fim, busca-se oferecer aos habitantes da nova urbanidade que é o Parque do Riacho uma arquitetura que participe da instrução de todos os seus cidadãos, que potencialize em seus espaços o caráter pedagógico de sua instituição, que influencie positivamente a disposição cívica de seus alunos e que estimule a fantasia da infância e a consciência de seus estudantes. Uma concepção que torne o CEF um edifício capaz de contribuir para a formação daqueles que irão moldar o futuro de nossas cidades.
Tecnologia
Considerando a necessidade emergencial da construção, a racionalidade é um aspecto primário para a futura obra. Propomos o uso de materiais e sistemas construtivos inteligentes, visando economia, agilidade, baixa manutenção e segurança. A durabilidade é outra qualidade fundamental para a escolha das tecnologias construtivas, considerando o uso intenso de suas atividades e a preservação de sua integridade como referencial arquitetônico e urbano ao longo do tempo. O projeto está estruturado a partir de uma malha de 1,25m que define estrutura, divisórias, fachadas, espaços, instalações, circulações, etc. Sua estrutura é inteiramente definida por pilares e vigas metálicas – dispostos a 5m, 7,50m e 8,75m – que configuram vãos econômicos e recebem as lajes de painéis treliçados de concreto, configurando espaços abertos e flexíveis. Organizadas linearmente, as instalações prediais serão sempre acessíveis para manutenção.
Eficiência
Tecnologia sustentável e acessibilidade universal são critérios obrigatórios para um edifício que busca seu máximo desempenho. Todas as salas estão providas dos adequados fatores de temperatura, luz e ventilação, otimizando o uso de recursos energéticos e garantindo o conforto de seus usuários. Para isso, foram previstas as seguintes soluções: Alas (A configuração linear de todos os ambientes programáticos com largura máxima de 7.50m assegura a ventilação cruzada, iluminação natural e conforto acústico); Fachadas (Seus fechamentos, divisões internas e elementos de proteção se definem por placas cimentícias placas cimentícias modulares com isolamento térmico acústico, indispensáveis contra insolação e radiação excessivas. Estão previstos o uso de caixilhos de alumínio anodizado, vidros simples e janelas basculantes para aproveitamento da ventilação. A proteção contra insolação e chuva das salas e das circulações internas se dá por meio de leves brises verticais metálicos ou pelo recuo dos caixilhos); Pátios e Jardins (Com proporções generosas, garantem boa climatização e contato constante com as áreas externas dotadas de um paisagismo responsável pelo escoamento natural das águas pluviais, melhoria de índices de temperatura e umidade); Coberturas (Está previsto o uso de telhas termoacústicas, adequadas pela leveza, eficiência térmica e correspondência com os vãos adotados, além da captação de águas pluviais para reuso como água cinza de irrigação dos vasos sanitários e áreas externas); Materiais (uso daqueles de origem reciclada ou certificada: tinta à base de água, vidros, forro em fibra mineral, brises em alumínio, placas recicladas das embalagens e resíduos plásticos para divisórias); Geração de energias renováveis (previsão de painéis solares para geração de energia elétrica e/ou água quente).
Menção Honrosa
Concurso Público Nacional de Projetos de Arquitetura e Complementares para Centro de Ensino Fundamental (CEF) no Empreendimento Parque Do Riacho, na Região Administrativa Do Riacho Fundo II - 5ª Etapa – RA XXI
Local: Riacho Fundo II, DF
Ano: 2016
Área do Terreno: 4.998m²
Área do Projeto: 4.050m²
Autores:
Daniel Corsi
Dani Hirano
André Sauaia
Colaboradores:
Fábio Carneiro, Gabriela Meyer Torres, Julia Lazcano