Conceber uma casa é buscar alcançar aquilo que sempre deve ser: um templo para se habitar o universo – lugar de nossas vivências e cujas memórias a arquitetura registra em sua matéria. Essa casa se idealiza como uma fortaleza simbólica e poética a nos lembrar da passagem do tempo em nossos corpos e mentes. Da humana ordenação geométrica, nasce ela irrompendo seu imo num sumo recinto: a praça central – ágora doméstica – como um promontório aberto ao céu e à paisagem. Tudo a ela conduz e dela irradia: reuniões hospitaleiras e celebrações de uma vida gregária acolhida nessa vila de jardins e construções (sede, casal, estudos, hóspedes e crianças). Do imaginário tipológico da casa, seus volumes de concreto e coberturas inclinadas de madeira originam variados beirais, varandas e janelas; e para adentrar essa cidadela, em meio às árvores frontais, uma fenda escavada nos leva para dentro da terra, onde uma porta indecifrável revela a transição mística do pátio de água para a amplidão da praça e da mata existente à qual se descortina. Assim, construímos o silêncio e a calma para a contemplação lúdica da natureza, do tempo, do dia e da noite, num infindo pendular entre a introspecção e a convivência que valoriza a imprescindibilidade de ambos para nosso bem-estar. Por fim, buscamos que sua arquitetura seja enunciadora de uma ética que revele, com o tempo, seus muitos sentidos, significados, segredos e fantasias. Uma casa que, junto conosco, possa crescer e inveterar, resguardando sempre nossa permanência no mundo.