Para todos que habitam cidades cada vez mais adensadas, onde o solo é raro e suas relações com a paisagem são escassas, não existe modo de morar mais comum do que viver em ambientes sobrepostos e isolados de uma dimensão exterior do mundo. É essa vivência que aqui buscamos recuperar. Considerando as dimensões generosas da unidade, a grande abertura para a privilegiada vista e os hábitos da família a morar ali, iniciamos o projeto reduzindo suas divisões ao mínimo. Entendendo o apartamento como uma pedra bruta, definimos em seu interior um sólido central que abriga o túnel de acesso e parte significativa de seus serviços. Ao seu redor, outros três sólidos – do casal, das filhas e da cozinha – são dispostos de modo que o espaço mais importante nasça precisamente do vazio entre eles: lugares livres para diferentes convívios e movimentos, espaços dentro de espaços num diálogo de ‘sólidos íntimos’ e ‘vazios coletivos’. Esse lugar coletivo vem atender à intensa e generosa vida social da família pautada pela hospitalidade, música e, principalmente, culinária. Por isso, é desse sólido da cozinha – único de forma mais fluida – que irrompe o balcão sinuoso ao redor do qual se imagina uma apropriação vívida e cotidiana, estendendo-se ao longo de toda a fachada como piso de transição entre dentro e fora. Arquitetura e design se unem nos mobiliários versáteis de metal e madeira, na sutil graduação de cores e na iluminação sempre difusa. Uma casa-mirante sobre a paisagem da cidade diariamente à espera do pôr-do-sol.